domingo, 28 de agosto de 2011

A Longa Viagem 2

- Capítulo 1: Sobre a fauna, a flora e aquilo que governa as duas

Numa época onde a informação é tão disponível e usada, até uma criança do jardim de infância sabe sobre os níveis de magia natural ao ambiente, bem como sabem da presença de Deuses reais no nosso mundo. Porém, em televisão, rádio ou jornal, nunca ouvimos sequer um pio sobre as implicações.

Como o leitor sabe, nosso mundo é principalmente coberto pela natureza, que aparece em todas suas formas, cores e sabores, sendo breve: planícies, florestas, pântanos e desertos – e qualquer grande projeto que tente avançar além de certos limites naturais geralmente acaba em um fracasso retumbante.

 O que se ensina na escola atualmente é a teoria da cadeia alimentar: plantas absorvem a magia residual do ambiente para crescer, herbívoros comem essas plantas e absorvem a magia, carnívoros por sua vez comem os herbívoros. A magia corre pela cadeia alimentar até que o seu membro mais superior morra e devolva a energia ao ambiente na decomposição, bem como acontece com os nutrientes – a diferença é que as energias arcanas fazem tudo crescer. E em grandes quantidades, as coisas crescem rápido, a vida selvagem em locais ricos em magia pode ser extremamente ameaçadora. Um colono inteligente mapeia essas regiões, constrói o mais longe possível e tenta não cortar nada em direção a elas.

A verdade, claro, é mais complexa do que isso. Os efeitos da magia em cada ser vivo tendem a ser muito particulares e regionais: enquanto para o senso comum há apenas o super crescimento, em regiões mais afastadas das cidades, pode-se sim ver porcos voarem.

Da mesma forma, qualquer tolo sabe da existência material de Deuses, mas sua real natureza geralmente é amplamente ignorada por pessoas “civilizadas”, povos das florestas e druidas são seus adoradores primários. Um exemplo da nossa ignorância está no deus mais amigável à civilização às nos ossos olhos, adorado por todos nós simplesmente como um deus da colheita, esquecendo que ela não favorece apenas nós seres humanos, mas a vida no geral.

Não é incomum ouvir histórias sobre divindades que se dedicam a forçar os assentamentos que construíram muito longe a respeitarem os limites agraciados a eles. As divindades não são gentis com nenhuma criatura que cresça além de suas próprias necessidades.

Deuses são muito caprichosos e perigosos! São seres compostos por pura magia ambiental, nascidos quando quantidades absurdas de energia se acumulam em partes intocadas da natureza. Raramente se vê um Deus, a menos que sua aventura o leve           muito, muito longe da civilização. Alguns dizem que            quando se vê um Deus nascendo, seu cérebro entra em colapso simplesmente por não ser capaz de compreender a forma divina ainda incompleta. Mas eu não colocaria fé nessa teoria, uma vez que existem os que digam que observar o nascimento de um deus pode lhe dar desde extrema boa sorte à cura de doenças terminais. Algumas pessoas, com os bolsos fundos o bastante, chegam até a organizar expedições pra esses encontros. Este escritor recomenda que seus leitores a não percam oportunidades e participem de uma expedição desse tido, se possível enviando relatos do ocorrido! (Esse escritor também não se responsabiliza pelos ferimentos e/ou morte dos que embarcarem em tais aventuras).

As divindades são extremamente protetoras com o conteúdo de seus “domínios”, elas vagam livremente todos os dias e parecem exercer alguma forma de controle sobre o crescimento por onde passam. E todos eles tem essa obsessão com a vida em todas suas formas, o equilíbrio, e blábláblá! Deuses parecem servir como um equalizador natural, impedindo que o crescimento de uma espécie sufoque outra, e ocasionalmente passando sabões na humanidade em geral.

A maioria dos assentamentos humanos em suas fases iniciais tendem a manter-se em constante estado de alerta, é difícil definir onde exatamente aparecerá a área designada pelo Deus – marcas raspadas no chão, ou uma clareira que se abre da noite para o dia, isso, claro se as marcas realmente chegam a aparecer. Nas tavernas de cidades de médio ou grande porte você pode encontrar homens que esperaram tais marcas em vão, mas conseguiram voltar pra casa. Eles são geralmente os grandalhões de rosto branco como papel e com as mãos sempre trêmulas em volta de um copo.

Os Deuses são verdadeiros aborrecimentos, mas, ao contrário do que seu nome indica, não é impossível matar um Deus. Tudo que é necessário é certo grau de preparação e pessoal qualificado. Como vocês acham que as cidades grandes ficaram desse tamanho e sobreviveram por tanto tempo? Ganhando a ira de panteões inteiros, e andando em uma perigosa corda bamba.

Em certa ocasião, o comboio no qual eu viajava passava por terras pantanosas, e no meio de um terreno de atoleiros fizemos uma parada num vilarejo que eu nunca tinha ouvido falar, chama-se Colina do Mel.

Até cheguei a fantasiar que aquele deveria ser um lugar famoso por seus doces e bebidas, mas mudei completamente de opinião quando desci da caravana e comecei a andar com minhas próprias pernas: o chão era de uma lama grudenta que a cada passo parecia criar sucção e fazer um barulho esquisito nos pés. E justamente estávamos lá pelo barro e argila retirado na região.

Pelo o que pude levantar, a vila vinha tendo problemas com um Deus desde que cavou um  novo poço de argila numa parte afastada no pântano; as pequenas construções que serviriam como alojamentos sumiam do dia pra noite, e o poço era parcialmente coberto, ninguém mais tinha coragem de trabalhar lá, quanto mais passar a noite no alojamento, tinham medo de sumir junto da madeira e dos pregos.

Cansados de viver a situação, o vilarejo, rico devido à rota de comércio, contratou uma equipe para matar o Deus do Pântano em questão, mercenários, auto intitulados como especialistas no serviço. Uma semana além do prazo, nenhum dos especialistas tinha voltado e todo o vilarejo  já pensava ter sido trapaceado pela metade do pagamento que os homens haviam recebido, até que tiveram notícias dos homens.

Grudado com barro seco, nun um tronco de árvore bem próximo dos portais de entrada da cidade, encontraram um caderno enlameado, um tipo de diário aparentemente. Eu o reproduzo em sua forma completa a seguir:


DIA 6 – Isso é completamente estúpido! Temos viajado ao norte da cidade por dias e eu não vi nenhum “Deus”, só monstros maiores e mais horríveis. Essa é a maior furada que Toma já nos meteu! Onde ele estava com a cabeça pegando um trabalho desses? Não há razão pra isso, nos estamos apenas andando em [Um mancha de água torna o  resto do texto ilegível]

DIA 12 – O pântano tem feito qualquer avanço ser quase impossível. Eu já tinha visto vegetação crescendo rápido antes, mas essa coisa... É mais rápida ainda! Corte uma vinha e em um minuto uma substituta cresceu no lugar, e então as cobras vão estar todas a sua volta, é como se a floresta estivesse retribuindo. Já perdemos cinco companheiros. Cinco homens bons que poderiam muito bem ter um trabalho de guarda, protegendo os muros de qualquer cidade, ao invés de estarem jogados na lama tentando matar um mito.


[um grande mancha de lama cobre um pedaço do jornal, com se o dono estivesse escrevendo e teve que se jogar e começar a correr de qualquer forma]...maldito monstro! Uma abominação, eu nunca vi algo parecido! Ele se movia rápido de mais, e nada parecia machucá-lo. Era uma coisa gigante, brilhava como se estivesse em chamas verdes, tinha algo como uma pessoa acorrentado a ele, mas acho que eram uma coisa só, perdemos oito homens praquela coisa. Sempre que tentamos flanqueá-lo ou fugir, toda a merda do pântano começava a crescer e bloqueava nosso caminho! Ele gritava, falava de equilíbrio, que éramos crianças mimadas, e aquele olho sempre [Outra mancha de lama]


SEPARADO. QUANTOS FUGIRAM? MIMADOS. TODOS SO-

[pequenas gotas de sangue]

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