terça-feira, 25 de outubro de 2011

Uma conversa em um carro

- Eu já te contei a minha nova tática infalível pra arrumar mulher?
- Puta merda, lá vamos nós...
- Lá vamos nós o que porra?! Nossa senhora, não posso te falar nada que você já chega com seus preconceitos pra cima de mim?
- Preconceitos?
- Preconceitos sim!
- Eu já te falei isso mil vezes: o fato de você ser anão e ruivo não tem nenhuma ligação com o fato de eu te achar um idiota sociopata. Mesmo quando você realmente é as duas coisas.
- Ah, e só por coincidência você menciona minha altura e meu cabelo também né?!
- É, me desculpa sobre isso. Eu também esqueci de falar das suas sardas estúpidas.
- Você realmente acha que não é um plano infalível não é?
- Claro que não é infalível! Eu conheço seus planos, fui parte de muitos deles, e tenho cicatrizes pra provar o quão não infalíveis eles são!
- Pois então fica de olho aí na direção e escuta esse, antes que eu decida deixar cicatrizes mais profundas do que as que você já tem.
- Mais do que as psicológicas? Pelo amor de Deus, não me faça ficar esperando, fale então.
- Então, a tática, é bem simples, se você quer arrumar uma garota, sem nenhuma chance de dar errado, pegue uma gordona!
- Sei... De quão gorda estamos falando?
- Poisé, aí entra a sutileza da questão, depende bastante. Gorda o suficiente pra não ter outras opções, mas ainda recuperável saca?
- Bom, eu saquei a falta de opções...
- Recuperável cara! Como em “o cérebro dela não é feito de marshmallow, com dieta e exercícios nós podemos corrigir isso”.
- “Nós”? Nós quem? Você?!
- Eu e a gordona oras, quem mais?
- Ok, agora realmente quero ouvir isso. Você é o que, o mini personal trainer delas?
- Entendo que seja complicado pra você imaginar, sendo burro e não criativo, mas é bem simples ó: eu me aproximo dessas baleias encalhadas e me torno íntimo delas.
- Anão ruivo... Sério que existe esse nível de desespero?
- Falta de opções, como eu disse antes, é bem mais fácil do que você imagina.
- Tá mas, nessa “aproximada” você chega a...?
- Não. Não meu Deus não! É tudo um processo, eu tenho etapas, eu tenho dignidade! Jamais me sujeitaria a isso! Apesar que realmente é difícil afastar as intenções delas.
- Eu não acredito que vou perguntar isso, mas como você “afasta” elas?
- É tudo uma questão de ser dedicado aos seus fins, você realmente tem que viver isso. Da mesma forma que ela vai me acompanhar em corridas matinais e o máximo que vai encontrar pra comer na minha casa vai ser legumes crus, eu digo pra ela que sou cristão do décimo sétimo dia, alguma merda religiosa desse tipo. Digo que estou me guardando pra uma pessoa especial, apenas depois do casamento. Eu até crio essa perspectiva de casamento, viu?
- Juro que não vi. E pra que isso aí afinal? Parece que é trabalho demais pra uma foda.
- “Trabalho demais”? Deus, esse é o problema cm os homens de hoje! Todo mundo já quer tudo pronto! Existe todo um prazer em cuidar e cultivar meu amigo.
- Em criar dependência emocional, enganar e criar um ideal de beleza fútil.
- Veja isso como você quiser, mas fato é que estou dando uma coisa boa pra elas! Saúde, auto-estima, bons hábitos, uma contagem de glicose no sangue com apenas duas casas decimais...
- Ah claro... E em troca elas te dão algo legal também né.
- Como você não pode acreditar! Imagina aí: toda aquela raiva reprimida, aquela cascata de hormônios em mudanças metabólicas, a privação de chocolate, uma cama...
- Ew. Imagino... Tenho calafrios imaginando inclusive...
- Não precisa ter! Elas já são malhadas nesse ponto, acha que eu não espero para colher os frutos.
- Poisé, o nojo é mais porque você está lá também. Mas enfim, vamos ver se eu entendi: você se aproxima de garotas morbidamente obesas, torna elas emocionalmente apegadas e força a elas uma dieta com o único propósito de criar um padrão de beleza específico para satisfazer suas próprias necessidades sexuais?
- Em resumo, basicamente isso aí.
- E incrivelmente, não é tão ruim quanto aquele seu ultimo lance com as garotas cegas.
- Poisé, aquilo era uma furada desde o início! Claro, elas não conseguem enxergar as sardas, mas a minha voz continua vindo de baixo.
- Imagino se algum dia você vai olhar pra trás e sentir orgulho do que você faz.
- Oh não, claro que não... Eu sou um reles escultor senhor. Eu apenas tiro a estátua que já existia dentro do monte de banha!
- Deus... Pegue suas coisas no banco de trás, nós chegamos ao prédio.

Um comentário:

  1. Só serve pra uma vez, depois ela vai começar a se achar e arranjar outro cara. Aiai hahaha

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