quinta-feira, 30 de março de 2017

Marina

Se chamava Marina e sua sina desde menina era ser vítima de rima de coisa de mar.
Por azar era bonita e até quem não botava um pingo num i aparecia com coisa escrita falando "quer me namorar?"

No papel, nada era novidade, uma tonelada de versos com - "Seus olhos são brilhantes minha beldade!"
Mas onde falavam "você é um encanto, nem parece ter sua idade!" - ela só lia "eu e você, gata, no meu canto lá na cidade..."

Queriam que aceitasse logo um anel, por isso, em casa era vigiada, lhe tratavam como doente, Marina não podia sair pra nada.

Sempre foi menininha obediente, doce como um favo de mel, até que um dia quente, quando andava na praia de vestido branco, um caolho manco empurrou pros bolsos de seus pais um monte de papel.

Nesse dia desceu dos tamancos, sentou na frente do espelho e se perguntou - É só isso mesmo que eu sou?

Fugiu de casa com pouco dinheiro, trocou de nome e trocou o cabelo, continuou com o vestido branco. Arrumou um parceiro, um cara qualquer, e foi assaltar banco.

Na hora do crime, houve uma discussão, ela pegou o dinheiro, atirou no parceiro e puxou o alarme. Fugiu e na rua um carro usando apenas seu charme, como uma carta de baralho, ela descartou o parceiro - a meio é o c****** vou ficar com o roubo inteiro!

Hoje não rouba mais banco, trocou o dinheiro pra Franco e arrumou um novo lugar pra morar.

Vive na Alemanha, tem um carro e uma casa bacana, virou uma criminosa famosa, seu vestido branco ficou cor de rosa e nunca mais ouviu nenhuma rima com mar.



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