quinta-feira, 21 de março de 2013

Sobre Balões de Bixinho e Gás Hélio



Todo ano milhares de balões de bixinhos fogem de seus donos em todo mundo.


Em primeiro lugar esclarecemos que todas as ocorrências de “fuga de balões” e termos similares presentes neste texto se relacionam à balões que escapam das mãos de seus donos, não de insurreições revolucionárias dos balões contra seus mestres humanos. Aconselhamos ainda que, por segurança, os leitores não disceminem esse tipo de idéia entre balões de nenhum tipo.


A falta de atenção no tema da perda de balões é um problema fácil de ser explicado: quando feita uma média per capita descobre-se que esse é dificilmente um fenômeno estatísticamente relevante. Porém, qualquer pessoa que viu seu balão de girafa sumir no céu irá argumentar sobre o impacto emocial e todos danos psicológicos que a situação inspirou.


O presente texto busca acolher essas pessoas, prover informações essenciais para os notoriamente desinformados, oferecer um consolo nesses tempos dificeis de perda e ganhar todo o dinheiro que essas pessoas poderiam gastar comprando nossos livros.


O senso comum geralmente coloca a culpa de um balão fujão na desatenção e falta de coordenação motora de uma criança, mas pro diabo com isso! A vida é curta demais pra se limitar o pensamento por coisas bobas como lógica e racionalidade!

Além do mais, porque você iria assumir a responsabilidade de um balão perdido quando podemos empurrar a culpa pra um elemento inanimado da natureza? Repita depois de mim: o culpado é o gás Hélio vossa excelência, pode ligar a cadeira elétrica (tenha certeza de não estar sentado em uma quando disser isso).


Há inúmeras coisas que podem ser ditas sobre o Hélio: que ele é um gás nobre, usado desde refrigerantes à super condutores e ainda dono de uma penca de efeitos termodinâmicos e quânticos da mais larga escala. Mas o que eu quero discutir são as propriedades aventurescas e poéticas únicas à esse gás.

Enquanto o Hélio é o segundo elemento mais abundante no espaço (perdendo apenas pro Hidrogênio, aquele invejoso), na Terra ele é um elemento relativamente raro.

Ao contrário de seu estado espacial, geralmente em plasma, na Terra o Hélio existe como gás. Pra ser mais específico o segundo gás mais leve entre todos elementos (novamente, com aquele babaca do Hidrogênio sempre levando os louros do primeiro lugar) o que faz com que o gás Hélio tenda a subir na atmosfera do planeta, como bolhas dentro de uma piscina.

Mesmo em segundo lugar, o Hélio ainda é o favorito para os dirigíveis e balões de passeio. Por que? Porque quando exposto ao calor, enquanto o Hélio só dilata, numa espreguiçada apática, o Hidrogênio é altamente inflamável, tendendo a causar explosões e funerais. O que demonstra que pessoas que experimentam a pressão de se manter em primeiro lugar em muitas coisas realmente tendem a ser mais estressadas e instáveis.

Tudo bem, o Hélio flutua no ar, mas o que as pessoas geralmente não se perguntam é "até onde?".

Até onde ele puder ir. Eu não tinha dito sobre as propriedades aventureiras desse gás?

Como uma bóia numa piscina, o Hélio tende a flutuar na superficie da atmosfera do planeta. Lá o gás pega uma carona nos ventos solares, e, num sopro de radiação, ele vai viver aventuras pelo universo.

Daí vem a parte poética da questão, sabe todos aqueles balões de bichinhos fujões que você teve por toda a infância? Sua mãe não tinha mentido completamente quando disse que todos eles estavam vivendo juntos num lugar melhor.

Enquanto a diferença de pressão interna do balão faz com que a carcaça de leão, pinguim, golfinho ou seja lá o que for; exploda no ar rarefeito da estratosfera, o gás hélio vai continuar subindo.

Eventualmente, a carcaça vai servir pra indigestão de uma baleia ou golfinho (e coloco golfinho só pela situação bizarra de canibalismo onde um golfinho come um balão de golfinho) que pensou que o plástico murcho era uma água viva, mas o "espírito" do seu balão deixou a terra pra sempre, levado pela brisa espacial aos cantos mais escuros do espaço.

Perder um balão de gás Hélio é talvez uma das situações mais irreversiveis que um ser Humano pode experimentar, e, potencialmente, ele experimenta isso multiplas vezes antes de completar 10 anos de idade. E se você acha essa uma situação triste, imagina toda a responsabilidade depositada no coitado do barbante que amarra esse balão?

De qualquer forma, eu gosto de pensar que os balões nunca realmente abandonam seus donos.

O vento solar é como um sistema de transporte público espacial: as partículas do sol ficam tão estressadas pela fusão nuclear que acontece por lá,  que ficam dispostas a subir num ônibus lotado, cheio de gente ionizada procurando um pouco de paz. As partículas ionizadas aguentam a companhia de todo tipo de radiação que você imaginar, pra poder vir pra terra passar umas férias.  Mais ou menos do jeito que as coisas acontecem no litoral em época de férias.


Quando o vento solar entra em contato com a atmosfera da terra é carnaval:  o choque de particulas carregadas pelo vento solar com as da atmosfera (entre elas, o Hélio terrestre em gás, oxigênio, nitrogênio e  o Hélio ionizado espacial)  gera a quebra de ligações atômicas e a excitação de elétrons, que quando tentam voltar pra suas normalidades energéticas, emitem grandes cortinas de luz colorida, que são alinhadas ao campo magnético terrestre.

Assim, sempre que você vir a luz de uma aurora, saiba que são todos os seus balões da sua vida passando pela Terra pra te dar um oi, dizendo que o espaço é legal e levando novos balões pra passear com eles.

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